Diário de Bordo “às avessas” - Parte 2

Enquanto muitas aventuras se anunciam nas partidas, a nossa se inicia com a terra à vista, o baixar das âncoras e das velas e os pés firmes em terra que já não balançam conforme o ritmo das ondas do mar. Agora, o veleiro Vitória Régia e a família Schurmann desembarcam em Itajaí, cidade litorânea do norte do estado brasileiro de Santa Catarina.  O nome indígena da cidade – “rio das pedras” – guarda a memória de seus primeiros habitantes, os tupis-guaranis, lembrando que toda jornada se ancora em algo maior.

Neste ponto de parada, uma pergunta inevitável guia a tripulação: como a nossa geração pode atender às suas necessidades sem comprometer o amanhã? Uma resposta logo se impõe em Itajaí: Reduzir, Reutilizar e Reciclar – os 3 Rs lançados na Cúpula  da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992. Esses princípios encontram tradução concreta na Recicla Vale. A cooperativa realiza a “logística reversa”: tornar o resíduo e-lixo (lixo eletrônico) em materiais recicláveis, em consonância com a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Desde 2009, a ação incansável da cooperativa demonstra a importância de colocar esses princípios em prática. Comprometida com a construção de planeta justo e sustentável, ela é responsável pela correta destinação de dez toneladas por mês de resíduos eletroeletrônicos em toda a região catarinense. Enquanto o mundo gerou 62 milhões de toneladas do e-lixo em 2022, conforme afirma o Monitor Global E-lixo das Nações Unidas, as ações da Marli Martins, presidente da cooperativa, e de seus colegas parecem passos pequenos; mas indispensáveis para pensar o futuro.

Dentro dos portões da cooperativa, um fluxo inusitado se desenrola: ventiladores, impressoras, televisões e controles remotos passam de "descartes" a objetos de desejo. Para Marli, o luxo está na oportunidade de reimaginar o lixo. Não raro, aparelhos chegam com pequenos defeitos, sendo consertados e oferecidos à comunidade por valores simbólicos, ampliando a visão do que é possível criar. Aqui, a reciclagem encontra o design, gerando móveis e luminárias que brilham com histórias e propósito.

“Eu sou uma pessoa que limpa o mundo. Isso aqui não é lixo, é um luxo que temos em mãos e muitas vezes não enxergamos o valor”, declara Marli, cuja cooperativa nasceu do apoio de pessoas em situação de rua. A lição é clara: o lixo é uma matéria-prima que gera dignidade, emprego e renda. Sem o esforço desses cooperados, toneladas de e-lixo acabariam acumuladas em lixões a céu aberto ou despejadas no oceano, aumentando a poluição e o desperdício.

Entre um porto e outro, o diário revela: cada ancoragem não é só uma pausa, mas um convite para repensar o futuro, ressignificando o que chamamos de descarte.

Corrente de Educação Ambiental: Navegando pelo Futuro do Planeta

Entre chegadas e partidas, uma mensagem reverbera a cada porto que o veleiro Vitória Régia alcança: a importância da educação ambiental. Para a Família Schurmann, essa educação foca na proteção dos oceanos, pois, sem conscientização, o sonho de um planeta sustentável não passa de uma utopia.

Em Itajaí, Projetos como Aprendendo com o Mar e Toninhas do Brasil desempenham um papel crucial nessa missão. Muitas vezes negligenciados por seu caráter misterioso, os oceanos e suas ricas biodiversidades permanecem ocultos para a maioria das pessoas; iniciativas como essas, no entanto, trazem os saberes desses mares profundos para perto de crianças e de jovens, revelando a imensidão de vida e cultura oceânica que esse azul infinito esconde.