Diário de Bordo às Avessas – Expedição Voz dos Oceanos em Ação: Recolher, Repensar, Ressignificar
O veleiro Vitória Régia da expedição Voz dos Oceanos, liderado pela Família Schurmann, aporta em Paranaguá, cidade mais antiga do litoral paranaense brasileiro. No horizonte, a brisa salgada traz mais que beleza: carrega resíduos, plásticos e o peso da ação humana sobre os oceanos. A missão aqui não é só navegar, mas recolher, repensar e ressignificar.

O chamado da Família Schurmann para iniciar o projeto Voz dos Oceanos surgiu com a imagem desoladora que esses aventureiros encontraram em uma ilha paradisíaca isolada, mas coberta por plástico, no Oceano Pacífico. O que começou com a limpeza da ilha West Fayu agora reverbera em Paranaguá, litoral do Paraná, multiplicando as mãos voluntárias que ecoam a mensagem da Voz dos Oceanos rumo ao G20: a potência da educação ambiental na formação de cidadãos conscientes.
Em meio ao movimento da tripulação e dos voluntários do Ibema, sacos cheios de plásticos descartáveis são retirados da água e da areia do litoral paranaense. Apenas na costa brasileira, são 1,3 milhão de toneladas de plástico despejados por ano, relata a ONG Oceana Brasil. Cada pedaço de lixo oceânico que chega ao Pontal do Paraná com as correntes marinhas conta uma história sobre consumo, hábitos e, principalmente, sobre a urgência de mudanças estruturais.
Katharina Grissotti, oceanógrafa e ex-tripulante que participou da expedição desde Galápagos até a Nova Zelândia, participou da ação em Paranaguá e reflete sobre o impacto dessa missão contínua: “A cada praia que limpamos, percebemos a profundidade dos desafios que enfrentamos, mas também vemos a transformação que essas ações provocam nas pessoas. Nosso trabalho não é só sobre recolher lixo; é sobre inspirar mudanças que podem chegar a todos os níveis — do individual ao global.” Para ela, cada ato de conscientização carrega o poder de alterar o futuro dos oceanos, e as experiências de campo que acumulou a fizeram ainda mais comprometida com a causa.
Vilfredo Schurmann, capitão da embarcação e testemunha ocular dos efeitos da poluição marinha, também compartilha: “Limpar praias vai além de retirar resíduos; é um ato de conscientização. Cada participante sai diferente, e isso gera mudanças duradouras.”
A presença constante dos resíduos de plástico — de canudos a microplásticos invisíveis a olho nu — alerta para a necessidade de combatermos as desigualdades ambientais. A tripulação sabe que as maiores vítimas da poluição oceânica são as populações costeiras vulneráveis, como marisqueiras, pescadores e populações originárias, cujas fontes de renda e alimentos dependem dos mares. Reduzir o uso de plástico é mais do que uma escolha individual; é uma responsabilidade coletiva e um pilar para um futuro sustentável.
Em meio ao verde das águas de Paranaguá e ao azul do céu, a Família Schurmann não só limpa, mas planta sementes de mudança. As ações do Vitória Régia e da coleta de mensagens rumo ao G20 representam um chamado para governos, empresas e cidadãos: não podemos continuar sufocando nossos oceanos.

Veja também





